29 dezembro 2021
24 dezembro 2021
17 dezembro 2021
11 setembro 2021
Transcrição da carta deixada por JOAQUIM RODRIGUES LADEIRA a seus descendentes. Mantida em sua total integridade e formatação (arquivo de Mario Jorge Bandarra).
PASSADO e PRESENTE. RECORDAR é VIVER! AOS MEUS FILHOS OFEREÇO ÊSTE
Resumido relato de minha modesta origem e ligeiras referências às alternativas do meu passado através de trabalhos e sacrifícios, de lutas e dificuldades, de sucessos, de realizações e fracassos, de iniciativas e desilusões, POR ISSO achando-me velho e quase no fim da vida (podendo ainda viver alguns anos e apenas mêses, semanas ou dias, preciso dizer algo sôbre meu longo passado que vocês desconhecem em grande parte. É o que passo a expôr. Vocês desconhecem, mas precisam conhecer as múltiplas atividades através de um agitado passado que proporcionou-me grande experiência e conhecimentos práticos durante 59 anos (dos 15 aos 74) de trabalho, de preocupações, de lutas, de realizações, de amarguras e desilusões, pois, as dificuldades e os sofrimentos fizeram-me conhecer a mentalidade das pessoas encarceradas dentro do egoísmo, da ambição, da falsidade e mentira. Sou católico, apostólico, porque creio em Deus e procuro seguir as doutrinas de Cristo, tanto quanto possível, pois ainda não atingi a perfeição moral e espiritual. Se não sou mau, não sou bom 100% porque tenho falhas e defeitos que serão depurados através das existências futuras... Nunca fiz mal a ninguém e algum bem sempre fazia quando podia. Não tenho inimigos e sempre perdoei os que me prejudicaram. Não sou egoísta nem ambicioso. Não sou pretensioso, vaidoso nem orgulhoso. Quando possuía posição e hoje nada possuo, sempre fui e sou o mesmo homem modesto e desprendido, altivo e independente de atitudes. …..... Sempre trabalhei honestamente sem esmorecimentos, enfrentando com energia, coragem e perseverança os empreendimentos e suas dificuldades, que vocês não conhecem em detalhes para avaliar e julgarem como sempre procurei cumprir meus deveres em defesa do bom nome de cidadão e do bem estar da família, por isso faço ligeira descrição do quanto me esforcei para realizar o que consegui e o que não me foi possível conquistar por imperativos de minha melhor bôa vontade e independente de minha capacidade de iniciativas e realizações. …..... Nasci no dia 12 de dezembro de 1880 no arraial de João Gomes, posteriormente cidade de Palmyra e atualmente Santos Dumont, Estado de Minas Gerais. Meu pai, Pedro Rodrigues Ladeira, era negociante e minha mãe, Maria Felismina Ladeira sua dedicadíssima espôsa. Meu pai vendeu o negócio e comprou a fazenda denominada “Gonzaga”, para qual mudamos em 1881, tendo eu apenas 3 mêses de idade. Era uma grande fazenda de gado leiteiro e lavoura. A fazenda tinha muitos escravos, mas, liberal e tolerante, mai pai os tratava com humanidade, tanto assim que, quando a lei os liberou, quase todos continuaram trabalhando na propriedade mediante salários mensais ou diários. Eu era o penúltimo dos dez irmãos. Os maiores estudavam, sendo que o mais velho de nome Pedro terminava o curso de preparatórios para matricular-se na Escola Politécnica, formando-se em engenharia civil. Os outros irmãos estudaram em bons colégios e as irmãs estudaram, também, música, enfim receberam regular instrução e bôa educação sob os rígidos princípios e bons costumes em harmonia à tradição de nossa família. Todos casaram-se e formaram suas famílias, e todos foram sempre cumpridores de seus deveres e jamais nenhum deu desgosto a seus pais, tornando-se bons cidadãos e bons chefes de família, todos conceituados e dignos do bom nome dos seus antepassados. Da família Rodrigues- Ladeira, e família Ferreira-Armond, tradicionais no Estado de Minas, ascendentes de meus pais, figuram o conde de Prados, ilustre médico da época, Barão de Simão Dias, que deixou a ilustre e conhecida família dos Gamas Cerqueiras, Mariano Procópio Ferreira Lage que deixou nome na história nacional como homem de grandes e arrojados empreendimentos, autor da construção da primeira estrada de rodagem macadamisada entre Juiz de Fora e Rio de Janeiro e outras realizações. Além dêstes, outros membros da grande família mineira se distinguiram na sociedade, na indústria, na lavoura e na política da monarquia. …..... Passei meus primeiros anos na fazenda. Minha ama sêca era uma preta de nome Suzana e a lavadeira velha mulata de nome Mariana, ambas ótimas criaturas. Aos sete anos entrei para o colégio do Dr Abílio, internato numa fazenda da Mantiqueira. De lá, eu e meu irmão Francisco entramos para o colégio de D. Honorina, em João Gomes. Aos dez anos eu e meu irmão Francisco, apelidado de Nhônhô, fomos internados no Colégio Andrés, de Juiz de Fora, grande colégio de fama conhecida, e de lá saí com 15 anos em 1895. Meu pai faleceu em 1894, com 64 anos. Motivo que interrompeu meus estudos no ano seguinte.
Minha mãe morreu aos 80 anos, minha avó aos 82 e minha bisavó aos 106 anos de idade. Viúva de meu bisavô, que foi assassinado no Rio Grande do Sul de regresso ao Estado de Minas. Uma ligeira explicação dessa lamentável ocorrência, único caso, aliás, assinalado na família Ferreira Armond e Rodrigues – Ladeira, pois nunca houve crimes nem processos contra membros das duas tradicionais famílias. Meu bisavô era grande fazendeiro e visinho de meu primo, também grande fazendeiro, mas inimigos. Numa manhã apareceu êste assassinato na encruzilhada da estrada. Pelo fato da inimizade de ambos, foi o crime atribuído a meu avô. Para não ser preso, processado e condenado à forca, fugiu, pois aquela época somente pelas circunstâncias o indigitado assassino era condenado à morte, como aconteceu com o caso Mota Coqueiro, de Campos, enforcado e mais tarde provada sua inocência, motivo pelo qual o Imperador D. Pedro II revogou a lei. Meu bisavô foi obrigado a fugir para o Rio Grande do Sul onde viveu alguns anos. Um caboclo que possuía sua casa e um pedaço de terra ligada a fazenda do primo do meu bisavô, perseguido por êle, foi obrigado a ceder o tereno e foi para o sertão. De lá voltou discretamente e por vingança o assassinou sem deixar vestígios nem testemunha. Mais tarde, quando estava para morrer, fez o caboclo sua confissão. Avisado meu bisavô, regressava do Rio Grande com grande soma de dinheiro e foi surpreendido, preso roubado e assassinado pelos revoltosos da revolução dos “Farrapos”, portanto inocente, no ano de 1836. Por princípio e consciência não condeno ninguém sem provas positivas, pois, as circunstâncias e os indícios evidentes muitas e muitas vezes falham, por isso prefiro absorver o suposto criminoso do que condenar um inocente. Aos 22 anos, na minha terra, fui sorteado para funcionar no juri e julgamento de dois suspeitos criminosos processados como autores de bárbaro crime de um fazendeiro. Todos os indícios e circunstâncias os indicavam como assassinos, inclusive uma menor de 11 anos afirmando que, olhando pelam fechadura do seu quarto para o quarto do seu avô viu que os dois homens o assassinaram. Eu era o mais moço dos jurados e era o primeiro juri no qual tomava parte. Ouvindo a defesa e acusação, entramos para a sala de julgamento. Dei voto absolvitório aos dois supostos criminosos, declarando que assim decidia em consciência porque as circunstâncias não constituíam elemento positivo e a testemunha informante não merecia fé. Foram pois, absolvidos unanimemente. Tempos depois ficou provado que os criminosos eram dois genros do assassinado, portanto inocentes os dois acusados. No caso do Bandeira teria dado meu voto de absolvição. …..... Aos 15 anos entrei para a luta empregando-me como caixeiro de vassoura do armazém de sêcos e molhados, armarinho e fazendas de meu irmão Tonico e Juca de Almeida, na terra natal. Posteriormente, com 16 anos, seguia para o Rio de Janeiro, empregando-me numa casa da rua da Candelária, que negociava óleos, graxas, fósforos, sabão e vélas. Nessa ocasião eu fazia as refeições num restaurante, Peninsula, da rua Uruguaiana, 800 réis cada refeição e dormia num quarto ao lado do depósito de caixões, na rua do Mercado, onde pulgas e ratos me atormentavam. Posteriormente fui trabalhar no escritório da casa de louças de Antônio Viana & Cia., esquina de Ouvidor com 1º de Março, em cujo prédio, terceiro andar, era meu quarto bem confortável. As refeições eram feitas no próprio estabelecimento, pois a firma tinha cosinha própria e a comida era abundante, variada e excelente. Tendo meu irmão Toníco, cunhado Juca e Vicente Albanese, marido de minha cunhada, irmã de Albertina, organizado sociedade sob o giro comercial Ladeira, Almeida, Albanese & Cia., no começo do ano de 1900, para exploração de comissões e consignações, firma estabelecida na rua do Rosário 111, fui para ela trabalhar no balcão de vendas e dormia nos fundos do armazém, ambiente mal cheiroso de queijos, toucinho e manteiga. Passei depois para o escritório quando tinha 19 anos, e assim posteriormente assumi a chefia do mesmo, tomando a responsabilidade do movimento da firma. Tendo meu irmão Tonico apanhado a febre amarela e seu sócio Albanese falecido da mesma doença, que então grassava no Distrito Federal, a sociedade foi dissolvida. Regressei à minha terra, quando há muito tempo gostava de sua mãe. Nessa ocasião fiz sociedade com meu irmão Tonico para explorar o negócio de compra de café e outros artigos. Durou pouco tempo essa sociedade. Fui explorar a pecuária numa parte da grande propriedade de minha mãe, próxima à já grande cidade de Palmyra, e assim produzia e vendia o leite em conjunto com a produção de meu irmão Zêca, exportando o leite para a leiteria “Palmyra” da rua do Ouvidor; aliás essa leiteria foi inaugurada com o leite de nossa fazenda. Levantava-me para tirar o leite, de madrugada, indo a cavalo para o retiro, distante 3 quilometros da cidade. O leite era vendido a 100 rs. o litro, dando uma renda líquida pouco mais de 250$000 mensais.
Casei-me com Albertina em 31/5/1902 e fui morar em casa própria na rua Padre João. Era um chalet de porão não habitável, composto de 7 peças além do alpendre de entrada e varanda nos fundos. A casa foi adquirida por 2:500$000, na qual gastei mais 2 contos de réis para sua conclusão, ficando com o necessário confôrto. Hoje esse prédio não vale menos de Cr$ 500.000,00. A pequena renda que eu obtinha dava para viver, comer, vestir e etc., pois, a carne comprava-se por $600 o quilo; pão grande, que atualmente compra-se por 3,50, o preço daquela época era de $150 rs. e assim tudo mais comprava-se a baixos prêços. No armazém de comestíveis que faziamos sortimento mensal, tudo comprado para as despezas da casa, não excedia de 60 a 70$000. A empregada pagava-se 10$000 por mês. Para iluminação utilisavamos lampeão a querozene comprado a $100 reis o litro. A casa era própria, o leite e a lenha tínhamos de graça. A pequena renda, daquêle tempo, há 52 anos, corresponde atualmente a 40 vezes mais, ou mais ou menos 8.000,00 mensais. Com esta renda e casa própria vive-se modestamente nesta Capital. …..... Meu mano Chiquinho, mais velho do que eu apenas 20 mêses, convidou-me para a instalação de uma pequena fábrica de laticínios na fazenda de nossa mãe, a qual foi inaugurada para fabricação de queijos tipo reino e manteiga, no ano de 1906. O leite para alimentar a fábrica era fornecido por mim, meu irmão Zéca, meu cunhado Jacques e outros fazendeiros da redondeza. O produto vendiamos a firma de meu irmão Tinoco e cunhado Alberto Boeke, com fabrica na cidade de Palmyra, distante de nossa fábrica 4 quilômetros. A indústria de laticínios de meu irmão e cunhado sob a firma Alberto Boeke & Comp., que ainda existe transformada em sociedade anônima, multiplicou-se em diversas filiais exportando a produção para esta Capital e Estados do País. Conforme já me referi, residia em Palmyra e, assim, diariamente a cavalo ou a pé, ia trabalhar na fábrica conjuntamente com os empregados, na fabricação de queijos e manteiga, tendo ainda de frequentar meu retiro para a fiscalização da extração do leite. Naquela época as estradas eram apenas caminhos cheios de depressões do terreno, de forma que, com sol, poeira; com chuva, atoleiro. E tudo isso eu vencia diariamente para trabalhar e ganhar o necessário com esperança de progredir, quando o Luís tinha apenas 2 anos. Eu, e meu irmão sócio, montamos outra fábrica no arraial do Rosário, município de Juiz de Fora, distante de Palmyra a cavalo 6 léguas, longe portanto da estação da estrada de ferro Central do Brasil, as quais eu percorria duas e três vezes por mês, enfrentando péssimas estradas, atoleiros, tempestades e enchentes periódicas. A produção era transformada em tropas de burros e vendida como da outra fábrica, à firma Alberto Boeke & Cia. A 3$500 o queijo tipo reino e a manteiga a 3$ e 4$000, de 1ª e 2ª qualidade o quilo. Por motivos diversos dissolvemos a sociedade que girava sob a firma de Ladeira & Irmão, ficando meu irmão com as duas fábricas e eu com o capital. Resolvi então montar por minha conta duas fábricas: uma no logar chamado “Cachoeira”, município de Juiz de Fora e a outra na fazenda denominada “Buraco Fundo”, município de Lima Duarte, também distante daquela cidade uns 35 quilômetros, dependendo de condução e transporte por estradas péssimas em tropas e carros de bois. Montei também outra fábrica no logar de nome “José Pinto”, vilarejo do município de Barbacena. Por falta de matéria-prima suficiente (leite) a fábrica deu prejuíso e foi fechada. Lá, quando funcionava uma caldeira a vapor, a mesma explodiu e eu e um empregado fomos queimados com água fervendo. Fiquei com as pernas queimadas dos joêlhos aos pés e em tratamento durante 60 dias, sofrendo dôres horríveis. Fui transportado da fábrica em carro de bois até a estação mais próxima de João Ayres, pernoitando na estrada de rodagem, num paiol, quando nessa época caía abundante geada no mês de Junho.
Mudamos afinal para Juiz de Fora em 1910 e fomos residir numa grande chácara na rua S. Mateus, cujo prédio tinha 14 quartos grandes e 6 enormes salas além de outras dependências. Na frente e no centro do prédio dois jardins e chácara de fruteiras, pagando aluguel de 120$000 mensais. Nessa mesma ocasião fiz contrato de venda da produção das fábricas com o industrial Eugenio Teixeira Leite Junior, aliás este contrato durou alguns mêses. Por falta de orientação comercial do contratante comprador fui obrigado a rescindir o contrato com algum prejuiso.
A primeira ponte construída foi destruida pela grande enchente do rio Parahybuna, no ano de 1917, Construí a segunda, maior e mais resistente. Durante a construção, que durou uns três mêses, organizei, mediante embarcação apropriada, o serviço de transporte pelo rio, dos operários de nossa fábrica, de outras indústrias e do povo em geral, comunicação da cidade com os bairros “Manoel Honório” e “Pito Aceso” e vice-versa. De forma que, centenas e centenas, ou mesmo mais de mil pessoas se utilisavam diàriamente da ponte enquanto durou a construção e jamais cobrava um só real do povo, mantendo gratuito o serviço, quando poderia ter cobrado a passagem para cobrir a despesa da obra. Recebi por isso, por mais de uma vez, manifestações de aprêço e gratidão da população local. Todos me consideravam, estimavam e respeitavam.
Tenho fotografias dessas manifestações espontaneas. Dos poderes públicos do Estado e da Camara de minha terra nunca recebi qualquer auxílio ou favor, ao contrato do que recebi inúmeros do Estado do Rio. Conforme já me referi, a firma girava sob a razão de – J.R.Ladeira & Comp., fazendo parte dela meu cunhado Antonio Lagrota, no ano de 1916. Não querendo continuar na firma fizemos o distrato social. Êle retirou-se e lhe cedi as dua fábricas de laticinios: - “Cachoeira” e “Buraco Fundo”, sendo essa industria o início de de sua fortuna deixada aos seus filhos, que continuam com o mesmo ramo de negócio. Nessa mesma ocasião minha firma industrial lutava com dificuldades por deficiência de capital e também devido à saída do meu sócio e cunhado, de forma que, para sair dos embaraços e desenvolver a industria, promovi a organização de uma sociedade anônima, organizando-a com a cooperação de amigos e parentes, a qual foi constituída e passou a funcionar no mesmo ano de 1916 sob a denominação de
Companhia Nacional de Industrias Reunidas J.R.Ladeira, sob minha direção e responsabilidade, com capital de 600:000$000, sendo eu o maior acionista e seu diretor gerênte.
Êsse capital corresponde hoje nada menos de 10.000.000 de cruzeiros. Nessa ocasião importava-se materias primas diretamente da Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra e França. O dolar facilmente adquiria-se por 2$200 mais ou menos. Havia em Juiz de Fóra uma outra empresa congênero, bem menor.
Por conveniência, as duas empresas entraram num acôrdo e fizeram a fusão sob a denominação de “S.A.Litografia e Mecânica União Industrial”, com capital de 1.100:000$000, correspondendo atualmente mais ou menos a 15 milhões de cruzeiros. Na mesma ocasião, ou no fim do ano de 1919, promovi a instalação da filial em Barra Mansa para maior desenvolvimento da industria no sentido de atender a freguezia sempre aumentando. A filial foi instalada num grande edificio de anterior fábrica de tecidos, completamente reformado, no qual instalei modernos maquinismos, tudo realizado sob minha direção. Até hoje continua em prosperidade inclusive a fábrica matriz, produzindo grandes lucros. Obtive do Estado e da Camara Municipal de Barra Mansa isenção de todos os impostos por 20 anos, além de grande área de terreno que a prefeitura cedeu gratuitamente para construção de vila operária. Conquistei também a simpatia, admiração e apoio da população, sobretudo dos dirigentes municipais e estaduais. Os políticos partidários do governo sob a chefia do saudoso Dr. Domingos Mariano, Secretário Geral do Governo Raul Veiga, por duas vezes convidaram-me para figurar na chapa oficial de deputado federal; assim também, fui convidado para prefeito da cidade.
Recusei o honroso convite porque nunca tive pretensões a posições politicas, conservando-me independente e livre de opinião e atitudes para discutir e comentar os problemas do povo e da Nação, como venho fazendo com independência e patriotismo desde a campanha de 1908 ao lado de Ruy Barbosa até a presente data, pois, atualmente já tenho escrito alguns artigos e continuarei escrevendo contra o atual governo que tornou-se verdadeiro flagelo para a Nação e o povo brasileiro, envergonhando e desgraçando o nosso país, humilhando e arrastando à miséria a população sob sua incapacidade moral e incompetência técnica, sendo responsável pelo roubo e a corrupção em todos os setores da vida nacional, sobretudo nos meios oficiais, escandalos sem prercedêntes na história administrativa do país.
A fábrica de Barra Mansa foi inaugurada em 1919. As duas fábricas que fundei e atualmente continuam funcionando, valem nada menos que 50.000.000 de cruzeiros. Meu companheiro de diretoria, que residia em Juiz de Fóra, após a fusão das duas empresas e posteriormente a inauguração da fábrica de Barra Mansa, aproveitando-se de minha ausência começou praticando atos prejudiciais à companhia em próprio proveito, pois, era homem excessivamente ganancioso e pouco escrupuloso. Entrei assim em divergência com ele e muito me aborrecia essa desagradável situação. Afinal as coisas chegaram a tal ponto que me foi feita a proposta de compra de minhas ações com bôa indenização, para deixar a Companhia. Aceitei a proposta e retirei-me com o capital de 600 contos, soma aliás bem volumosa. Na época atual corresponde a uns 10 milhões de cruzeiros.
Resolvi entao transferir nossa residência para esta Capital no ano de 1921. Tive em vista diversos negócios de imóveis que atualmente valem grandes fortunas pela valorisação. Deixei de comprar grande chácara (sítio aliás) de 150 mil metros quadrados na estação de Piedade com grandes e valiosas benfeitorias pelo preço de 80:000$000, quando essa propriedade vale hoje 15 milhões. Foi-me também oferecido por 230 contos o extenso terreno entre Engenho de Dentro e Meier, de frente para a rua Dias da Cruz, cuja área foi posteriormente adquirida por empresa imobiliária que a loteou e apurou mais de 20 mil contos, atualmente toda construída.
Afinal comprei chácara e grande prédio na rua Aquidaban pelo preço de 52 contos, valendo hoje uns dois milhões de cruzeiros. Criado porém, na indústria, minha tendência sempre foi para a industria. Assim pois, adquiri grande e extensa propriedade de matas e quedas dágua em Jacareí, município de Mangaratiba, Estado do Rio, para exploração da industria de distilação da madeira e extração dos diversos produtos químicos e cultura intensiva da bananeira, negócio aliás de enormes possibilidades. Assim instalei a usina para extração do ácido acético, alcatrão, álcool metilico, acetona, acetatos, formol, etc., e carvão de fácil venda. Aquêles produtos e sub-produtos, duas importantes firmas, uma alemã e outra italiana, assumiam o compromisso de compra total. A usina foi instalada dentro das matas e na rua Aquidaban instalei os maquinismos de purificação dos subprodutos e depósito na estação de Engenho Novo, rua Propicia.
Organizei pois, a Cia. Agro Industria Santa Cruz, com o capital inicial de 1.300 contos, tendo eu 90% das ações. Isso foi no ano de 1922. A indústria era realmente ótima para grandes lucros, pois, a madeira (lenha) única matéria prima empregada custava o preço de 4$000 o metro cúbico. Somente o carvão dava para pagar o custo da produção dos produtos químicos. Infelizmente, circunstancias imprevistas e independentes de minha vontade, contribuiram para o fracasso, perdendo eu toda minha fortuna, ficando redurzido a 0! Eu conhecia e conheço a parte mecânica, mas desconhecia por completo a parte química. FOI ASSIM MEU GRANDE ÊRRO. Tive que recorrer à técnica de profissionais químicos (três) que forair contratados, portadores de credenciais recomendáveis; infelizmente seus conhecimentos eram exclusivamente teóricos, de forma que, as instalações erradas não deram o resultado esperado, causando grandes prejuísos.
Por experiência própria cheguei a compreender e conhecer os êrros das instalações e já estava habilitado a corrigi-los para perfeito e compensador funcionamento da industria, mas havia esgotado os recursos pecuniários, impossibilitado, pois, de realizar as reformas necessárias. Não desanimei e tomei as providencias que o caso exigia, pois a industria era excelente, bastando dizer que a capacidade inicial, da fábrica era para trabalhar 1000mts3 de madeira por mês, podendo aumentar muito para o futuro. A distilação de um metro cubico dava em produtos e sub produtos um lucro liquido de 100$000 ou mil metros cúbicos mensais 100:000$000 ou 1. 200:000$000 por ano, naquela época do mil réis valorisado, ano de 1924.
E assim tomei todas as providências para realizar um emprestimo por debentures de 800:000$000. O corretor de fundos, Snr. Simonsen, presidente do Sindicato dos Corretores, lançou o empréstimo nesta praça e em S. Paulo, obtendo tomadores para cobertura do mesmo. Todas as exigências da lei foram satisfeitas, inclusive inscrição hipotecária e publicação, afinal, do manifesto no Jornal do Comercio do dia 5 de Julho de 1924, justamente no dia que rebentou a revolução em S. Paulo. Houve pânico na praça e a operação fracassou. Se não fôsse essa circunstância teria realizado integralmente a reforma da usina e os resultados seriam positivos.
E assim nos 30 anos decorridos de 24 a 54,teria se desenvolvido a industria conforme meu plano,e hoje teria fortuna superior a 100 mil contos de reis; entretanto, por azar da sorte, fiquei reduzido, quase à miséria, a pobreza. Tudo perdi, inclusive jóias, objetos de arte, relógio Patek encomendado diretamente da Suiça, e espingarda encomendada especialmente da França, tudo perdido no "prego". Procurei obter apoio do Banco do Brasil com o qual transacionei durante muitos anos, e nada obtive legalmente; entretanto, um intermediário no tempo da gerencia Correia e Castro, época essa na qual muitas e muitas transações duvidosas foram efetuadas, de prejuiso para o Banco, me foi proposto levantar empréstimo de 1.300:000$000, ficando para os intermediários 500:000$000. Recusei essa proposta e nada mais pude realizar para salvar minha industria, na qual tinha fundamentadas esperanças de prosperidade. E assim fui forçado a fazer a liquidação da Companhia para pagamento de alguns poucos credores e tudo consumou-se sem me afetar a honestidade.
Tive proposta para fazer concordata, apresentando credores fictícios da Companhia, não para exploração de produtos químicos, mas para exploração da lenha, carvão, madeiras de lei e cultura intensiva da bananeira, mas sentia-me desanimado e aborrecido com os insucessos e nada mais quiz tentar, mesmo porque não concordava com a concordata nas condições propostas. Restava-me apenas a chácara da Boca do Mato, hipotecada e sem recursos para manter a família. Diante dessa lamentável situação que aceitei resignadamente, resolvi nossa mudança provisória para estação de Comercio, onde aluguel um chalet por 80$000, em 1926. A despeza ia se fazendo em dificuldades com o aluguel da chácara, de 800$000, alugada ao coronel Borges, sogro do Juracy Magalhães. Pagando os juros, sobravam 400$000. Escrevi então uma carta ao credor hipotecário, capitalista de nome Seixas, conhecido como usurário e sem escrúpulos, propondo a venda da propriedade para lhe pagar uns 50 contos de capital e juros atrasados. Com a venda me sobrariam uns 40 a 50 contos para recomeçar a vida; entretanto, o credor não me respondeu e fui surpreendido com o mandado de penhora dos alugueis, tirando assim o único meio de nossa subsistência. Foi perverso e deshumano! Resolvi então regressar imediatamente ao Rio e ocupar o prédio no qual estava residindo o Dr. Oberlaender, medico distinto e bom. Com êle combinei e dei-lhe recibos de alugueis adeantados. A penhora não foi efetuada. O Dr. Oberlaender mudou-se e nós ficamos nos defendendo dentro da casa, tendo como advogado o Dr. Inimá de Oliveira. O credor promoveu a execução da hipoteca com dois advogados. O Dr. Inimá, hábil e competente, embaraçou a execução quase três anos. Finalmente, para que eu deixasse a casa e désse por terminada a questão, o credor indenizou-me com três contos de réis. Mudamos para Santa Tereza em 1930, continuando a lutar com penosas dificuldades. Os amigos e parentes não me auxiliaram. Só, sem dinheiro, como podia recomeçar a vida? Quando se fica pobre, embora de passado honrado e honroso, todos fogem! Vale quem tem, quem não tem nada vale. As qualidades proclamadas no passado nada valem no presente de quem fica pobre! Um estranho ofereceu-me bom negocio que resolvia a situação, tirando-nos de imensas dificuldades. Foi o Dr. Rocha, engenheiro da Companhia de Bondes Santa Teresa, que ofereceu-me arranjar a concessão dos anúncios nos bondes e estações, que dava um lucro de uns quatro contos mensais. Terminava no fim do ano o contrato com a firma concessionaria e eu seria o novo concessionário por 5 anos. A diretoria da Light concordou mediante o pagamento mensal de 1:200$000 e fiador para se lavrar o respectivo contrato. Procurei então velho e íntimo amigo de Juiz de Fóra, homem de grandes recursos. Não obstante sermos amigos e conhecer-me através de minhas anteriores atividades, propuz-lhe dar a própria concessão como garantia e um anuncio nos 26 bondes em tráfego, para propaganda do seu produto "Capivarol". Recusou-se auxiliar-me. Perdi assim o negocio por falta de fiador. Lutei e sofri com vocês, embora tendo boas iniciativas, inclusive patente de filtros, mas sem capital e sem auxilio, nada me foi possível realizar. Trabalhei em diversas coisas, inclusive no Partido Economista, ganhando 400 cruzeiros por mês, para alistamento eleitoral. Assumi também a direção da revista “Comércio do Brasil" e lhe dei grande desenvolvimento, realizando muitos trabalhos nela publicados sobre assuntos económicos e financeiros. Fui a S. Paulo em 1929 o consegui do governo, realizar a reportagem do Estado sobre as atividades da industria, da lavoura, comércio e também sobre as atividades administrativas do governo Julio Prestes. Foi a publicação contratada por Rs 42:000$000. Acompanhava-me um repórter mineiro que ia viajar pelo Estado para obter assinaturas e publicações, esse reporter, inimigo de Antonio Carlos, querendo obter vantagens, denunciou-me ao governo como seu partidário da Aliança Liberal, lançada na mesma ocasião, de fórma que o governo não quis efetuar o pagamento da reportagem, mas me fez proposta para fazer a propaganda de sua candidatura, a 2 contos por página da revista e daria recomendações aos principais municípios para realização de reportagens; aliás, essa proposta vantajosissima, durante 10 mêses de propaganda, daria de lucro mais de mil contos. Não aceitei e fiquei ao lado da Aliança para atender meus ideais e realizei propaganda em diversos jornais, publicando mais de 200 artigos. Um! grande êrro, porque "foi pior a emenda do que o soneto", cujas consequências está sofrendo a Nação e sua população sob o repulsivo governo de Getulio Vargas. Além de outros negocios de anuncios que tinha em via ta para, dar bons lucros e que falharam, promovi a organização de uma grande révista internacional, "Evolução Brasileira", para ser publicada em inglês, espanhol e português, como bôa fonte de propaganda do Brasil. Lancei o programa por escrito e passei a obter adesões. Consegui o que desejava, pois, as entidades comerciais e industriais me apoiaram, a Prefeitura, o Touring Club, Automóvel Club, Rotary Club, os Ministérios os Estados do Rio e S. Paulo, me dispensaram apoio escrito. Faltava-me ainda obter a adesão de três ministérios. Fui ao da Viação procurar o General Mendonça Lima; não o encontrando, seu secretário recebeu em mãos uma pasta de 200 folhas com os documentos de apoio. Voltei 8 dias depois, mais oito dias e mais oito dias, e finalmente depois de reclamar energicamente, o tal Secretário acabou declarando que a documentação havia desaparecido. Assim fracassou mais essa iniciativa de grandes possibilidades. Telegrafei ao General expondo o caso e ao Presidente da Republica e nada consegui. Coordenei outros planos de interesse público e nacional, recebendo grandes elogios, concedi entrevistas e fiz conferencias na Sociedade dos Amigos de Alberto Tôrres, da qual era urn dos diretores, além de publicações diversas que não resultaram em vantagens econômicas para mim. Projetei também a monumental estação de bondes da zona Sul e idealizei o “Pavilhão" de frutas, formidável iniciativa de interêsse publico e nacional pelas finalidades do mesmo em beneficio da população, progresso e civilização desta Capital. O saudoso ministro Dr. Fernando Costa, entusiasmado, dispensou-me todo apoio e oficiou ao Prefeito para dar a concessão de grande interêsse público. Apresentei o projeto acompanhado de plantas e documentos que o Dr. Henrique Dodsworth congelou no seu gabinete durante 6 anos, finalmente sendo arquivado na administração do ex- Prefeito Hïldebrando Góis, Foi mais um fracasso de uma grande e útil iniciativa. Seria longo descrever meus trabalhos e iniciativas que não se realisaram porque somente sob empenho político ou comedeira, nêste país, podem obter apoio e frutificar. Além de centenas e centenas de artigos publicados em diversos jornais e revistas, enderecei aos Poderes Públicos mais de 300 cartas, sendo 78 ao Getulio e 62 ao Dutra e outras aos Ministérios, Chefes de Policia, deputadost senadores, etc., etc., sôbre assuntos de interêsse público, tendo em mãos muitas dezenas e dezenas de respostas de referências elogiosas. Como Industrial e defensor das classes Produtoras, publiquei a obra "Pela Grandeza Econômica do Brasil", apoiada por quase todas as associações de classes conservadoras do Acre ao Rio Grande do Sul, a qual foi prefaciada por 18 personalidades do alto meio comercial, econômico e financeiro do país. E recebi também referências elogiosas do Presidente da Republica, de alguns Ministros, do Presidente de Minas e inúmeros elementos oficiais de destaque do meio político e administrativo. A publicação do primeiro volume, ou 500 volumes, custou em 29, 36:000$000. Hoje não se obteria por menos de 350:000$000. Lutei e sofri com vocês sem poder lhes dar o que tanto desejei, mas os ventos sempre sopraram contra minhas iniciativas. Afinal, meu saudoso amigo Dr. Vieira Marques, deputado federal, conseguiu minha designação para comissário da Polícia Municipal com vencimentos de 1.000 cruzeiros, em 1935. Mal tem dado para viver modestissimamente, mas como sou modesto e econômico, sem pretensões e sem vaidades, vamos nos remediando com o pouco. Devido a erros e injustiças na Prefeitura, eu e meus colegas de classe reivindicamos direitos perante o Judiciário e assim tivemos ganho de causa, obrigando o Prefeito a nos promover aos padrões N e O e pagamento das diferenças atrazadas a partir de 1940, no total aproximado de 250.000 cruzeiros a cada um de nos. Além disso tenho direito a receber diferenças da aposentadoria e tabela dos inativos a partir de 10/8/1951, no total de 180.000 cruzeiros e direito a promoção a letra Q, em andamento e respectivas diferenças a partir de 1949, no total de 200.000 cruzeiros. O advogado e amigo Dr. Jacintho Simões de Almeida têm procuração para promover mandado de segurança perante a Prefeitura para obrigar o Prefeito a cumprir as leis em vigor. Essas diferenças tâo cêdo a Prefeitura não as pagará, mas é um direito líquido que vocês mais tarde terão de receber. Se eu quizesse transigir com os poderosos da política e da administração publica, os"engrossando" ao contrário do que tenho feito, fazendo publicações elogiosas e trabalhando na politica ao seu lado, teria certamente obtido bons negócios e bôa posição, mas sou inflexível no caminho do dever e da dignidade, por isso jamais me conformarei com as patifarias da quadrilha que está desgovernando e roubando a Nação. Em 1946, na campanha das tabelas de aumentos de vencimentos, a "tabela Ladeira" teve grande repercussão em todo o país, pondo-me em evidencia, pois a tabela do Dasp teve 750 votos e a minha tabela 37.000 votos no plebiscito feito pelo "O Globo". As cartas, telegramas e telefonemas para o Diário da Noite e O Globo foram milhares, de apoio a "tabela Ladeira". Por isso as sociedades burocráticas quizeram que eu me apresentasse na chapa para deputado federal. Não quiz aceitar minha indicação porque não tenho e nunca tive pretensões a posições políticas. Se aceitasse seria provavelmente o mais votado porque o funcionalismo em pêso me daria seu voto. Por Imperativos das circunstâncias ou do destino, no campo econômico, fracassei; não me faltaram, porém, ação, capacidade, inteligência e competência. Fui líder da industria em Juiz de Fóra, considerado e acatado, tido como homem de ação e grande iniciativa; hoje, porém, perdendo o dinheiro e a posição nada sou no meio social e econômico, mas mantenho Integral minha capacidade moral e independência de carater. O dinheiro acima de tudo, sobrepondo-se sempre ao direito e à Justiça, mas o sentido moral e espiritual do homem é a única verdade perante Deus. Afinal, como compensação de tudo quanto sofri, consegui pequeno negocio que veio me atender o desejo. A oportunidade de comprar o "Sitio Santa Terezinha" pelo preço de 90.000 cruzeiros, pagando em prestações, com dificuldades, mas e a única coisa que me dá algum prazer e compensação, além, é claro, do prazer da convivência com vocês. Nele já gastei 60.000 cruzeiros de melhoramentos. Gosto realmente do sitio e do ambiênte local, longe da vida tumultuosa e estafante desta Capital congestionada, onde predomina a vaidade, a inveja, a ambição, o egoísmo, o orgulho, a falsidade, a intriga e ostentação de uma sociedade suja por dentro e limpa por fóra. Depois de muitos melhoramentos locais, energia elétrica, calçamento, saneamento e estrada de rodagem, sobretudo devido a colossal desvalorização do cruzeiro, os terrenos adjacentes da cidade de Itaborai valorizaram-se no minimo 20 vêzes mais. O sitio não dá lucro e me dá prazer. Dà despeza e a faço com sacrificio, mas estou ganhando na valorização uns 1000%. Mais, muito mais do que êsse valor material, tem para mim o valor moral e espiritual que é a intima satisfação do bem estar para meus últimos tempos de vida. Quando eu morrer vocês o venderão, única coisa que deixo de herança além da divida da Prefeitura e o exemplo que deixo de trabalho, honestidade e dignidade. O ambiênte lá é calmo e socegado A paizagem em tôrno da casa é aprazível e confortadora. As noites são tranquilas e silenciosas proporcionando sono reparador. O céu é mais azul e as estrelas brilham mais. O luar é maravilhoso e o amanhecer é confortante. A casa é velha com seus velhos e antigos moveis, de acôrdo com seus donos mas respira-se ar puro oxigenado pelas emanações da abundante vegetação de variadas fruteiras, gosando-se tranquilidade e repouso moral e espiritual, longe desta cidade agitada, na qual nos asfixiamos sob o esmagador pêso do materialismo estafante e angustiante, criando-nos embaraços e dificuldades. O povo da pequenina cidade de Itaborai é simples e acolhedor na sua modéstia, ordeiro e trabalhador. A cidadesinha é atraente pelo seu aspecto colonial, topográfico e panorâmico, na qual predominam harmonia, paz e tranquilidade. Lá tem dois jornaisinhos, num dos quais estou colaborando com meus artigos causticantes aos pseudo mandatários do povo. Esquecia-me de dizer que possuo titulo de engenheiro "honoris causa" que me foi conferido pela Escola de Engenharia, filiada a duas outras da America do Norte, pelo ano.da Exposição Internacional de 1922. Esse título,honroso aliás, me foi concedido devido aos empreendimentos que realizei na indústria durante a grande guerra e publicações diversas, inclusive as publicações sôbre siderurgia em 1918 e 1919,trabalhos que foram considerados de importância. Há pouco, como vocês sabem, por intormédio do Péricles, os Accetas me convidaram para proposto da Massa Falida do Hotol Riviera, que administrei durante 2 anos, cuja prestação de contas ao Juizo da 3ª Vara Cível foi inteiramente satisfatória, contas essas aprovadas sem restrições pelo Curador de Massas Pálidas. Devido as condições precárias do Hotel em falência não me foi possível realizar grandes coisas, mas reduzi despesas, implantei ordem e disciplina e conquistei a simpatia de todos. Poderia, se quizesse, tirar grandes proveitos pecuniários do movimento total aproximado de 20 milhões de cruzeiros, mas me satisfiz, como devia exclusivamente com as vantagens do ordenado, apartamento e alimentação gratuitas, cumprindo assim meu dever, satisfazendo a confiança gue me foi depositada. Nunca fui processado nem denunciado sequer de ato criminoso ou lesivo ao interesse público, nem ao menos refutado nos meus caustlcantes comentários contra os maus brasileiros e maus govêrnos, através de minhas publicações. E jamais fui desrespeitado nos meus atos e atitudes. Sempre me impús em todos os meios e oportunidades, não pela violencia ou valentia, mas pela fôrça da verdade, do direito, da razão, do bom senso e acão enérgica ponderada e controlada, apezar do meu temperamento um tanto explosivo e minhas atitudes francas e decisivas. Viajei pelo interior, atuando no meio de ignorantes e criminosos, onde possuía fabricas de laticínios, e sempre fui considerado e respeitado. Trabalhei na ronda nortuna a serviço da Policia nas zonas da Praça 11, Cais do Porto e Saúde, conhecidas naquele tempo infestadas de malandros e desordeiros, e nada me aconteceu de desagradável. Os colegas, superiores e inferiores, sempre me dispensaram consideração e respeito. Fui o defensor da classe, na policia, perante a Câmara, Prefeitura, Senado e imprensa, dos seus direitos e muitas vantagens conquistei sózinho, como gratificações para o serviço noturno, vencimentos integrais para os aposentados em geral, assim, também, livrei os comissários de concurso para efetivação dos respectivos cargos. Nunca fui agredido nem agredí ninguém e não tenho inimigos, embora tenha trabalhado e lutado em muitas e variadas atividades durante quase 60 anos. Não bêbo, não jogo e não fumo. Considero-me pois, graças ao bom Deus, relativamente feliz, sem ambição e sem pretensões às grandezas materiais ou a posições de destaque, contentando-me com minhas modestas condições. Se trabalhei e lutei muito nas indústrias, não era somente com a intenção de conquistar fortuna, mas sempre visei o progresso do meu país e o bem do povo. Sou idealista! Aí têm vocês quase 60 anos de trabalho honesto, de lutas, de sofrimentos, de realizações, de sucessos e insucessos que desconhecem em detalhes, de minha acidentada vida; aliás, é apenas um resumo porque seria longo entrar em minúcias de uma existência agitada e muitas e muitas vezes atribulada. Podem assim vocês conhecer-me melhor e fazerem consciencioaamente justo julgamento de minha vida e de meus atos. Sempre empenhei-me para dar a vocês o necessário conforto a que tinham direito e melhor futuro, mas a fôrça do destino desviou-me dêsse caminho e meus planos falharam. Em todo caso vocês tiveram a necessária instrução para a vida prática e receberam educação moral sob os princípios da verdade, do direito e da justiça. Não tenho motivos de queixa de vocês e sinto-me feliz porque possuem as qualidades valiosas e básicas: Honestidade, inteligência, consciência e caráter. Para o sucesso no campo econômico-financeiro, são necessários 5 fatores essenciais. 1º - Ação e perseverança. 2º - Audácia inescrupulosa. 3º - Dinheiro. 4º - Força política e subserviência. 5° - Fôrça do destino quando cria oportunidades. Em todas minhas atividadea sempre empenhei "Ação e Perseverança", mas as circunstâncias ou o destino criaram-me dificuldades e embaraçaram o curso dos meus projetos e iniciativas. Eis a verdadeira causa do insucesso da segunda etapa de minhas atividades Industriais. Perdi a fortuna e assim perdido prestígio. Graças a Deus não perdi a dignidade, não perdi a consciência dos deveres de cidadão e não perdi o sentimento de amoroso chefe de família, e, sobretudo, não perdi a fé em Deus. Nesta data de hoje (31/5/54) que dedico a vocês a pequena e desinteressante história de minha vida, completa-se o cincoentagésimo segundo aniversário de nosso casamento, de convivência, amor e harmonia, com exceção de pequenas "rusgas" tão comuns entre os casais que vivem felizes Terminando, desejo a vocês saúde e consciência do dever. Bem estar e alegria de viver, em paz harmonia, solidariedade, desprendimento e tolerância entre vocês, é o que peço em homenagem aos seus velhos pais, como base da felicidade. Rio de Janeiro, 31 de Maio de 1954. Do pai e amigo Esquecia-me fazer significativa e expressiva referência de outro fracasso alem de outros citados e outros que não faço para não prolongar este relato de minha vida de trabalho e lutas, mas que definem o meio brasileiro sob a maléfica influência da politicagem que anula as bôas e honestas iniciativas e tornam vitoriosas as negociatas, as ladroeiras e incriveis safadezas, prejudiciais aos direitos individuais e aos sagrados interêsses públicos. Projetei e requeri a concessão da Prefeitura para construção de abrigos nos principais e mais movimentados pontos de bondes mediante pavilhões estéticos e artísticos para embelezamento dos logradouros públicos e confôrto dos habitantes da Cidade. Tudo estava pronto para o despacho da concessão. Como tudo nêste pais é demorado sobretudo sob a displicência da burocracia, resolvi pedir a cooperação de João Alberto, então chefe de Policia, por intermédio de seu irmão Vícente, ao qual entreguei os documentos do projeto. Semanas depois me foram devolvidos com a resposta de que o assunto não interessava. Um mês depois mais ou menos o Diário Oficial publicava a concorrência para construção dos abrigos. 9 foram os concorrentes, entre os quais a “Luminosa S.A.” organizada especialmente na ocasião, atrás da mesma estava João Alberto. Abertas as propostas, os concorrentes foram de opinião que minha prorosta seria vitoriosa, a qual foi feita meticulosamente por dois arquitetos de nome. Para julgamento das propostas forem nomeados dois militares amigos de João Alberto e um técnico da Prefeitura. Embora a proposta da 'Luminosa S.A." não atendesse os requisitos da concorrência, foi escolhida. E ai tem a Cidade os monstrengos enfeiando sua fisionomia estética! Perdi assim mais uma iniciativa.
NOTA de seu bisneto Mario Jorge Bandarra.
A primeira prótese do Brasil, encomendada na Alemanha, foi trazida por Joaquim Rodrigues Ladeira para atender um empregado que perdeu parte do braço esquerdo numa das prensas de fabricação da embalagem metálica estampada, dos queijos Palmira. Eufemizou em sua explanação que, em decorrência à inúmeras invenções e adaptações introduzidas nas máquinas trazidas de outros países, acabou sendo declarado engenheiro, e recebeu três diplomas por isto. Dois encaminhados junto a este documento. O terceiro esta em fase de restauro. Faleceu como Guarda Noturno em 29 de agosto de 1960, no Rio de Janeiro
Encontro de Alberto Santos Dumont com amigos da Cidade de Palmyra, em 29 de maio de 1916 (arquivo do Museu de Cabangu).
1- Cap. José Valente da Costa Lamin2- José da Cunha Carvalho3- Israel de Carvalho4- Dr. Pedro de Araújo Lima Guimaraes5- Cap. Jacinto Dias Augusto dos Santos6- Alberto Santos Dumont7- Policarpo Rocha8- Nicolau Albanese9- Dr. Joaquim Alves da Cunha10- Jacques Gabriel Pansardi11- Carlos Pitella12 José Abreu