SEGUNDO FESTIVAL DE MPB DE JF
Diante do sucesso e repercussão do Primeiro
Festival, a municipalidade resolveu institucionalizá-lo. Após reflexões,
análises, deu-se continuidade à promoção, reformulando-se certos itens de sua
funcionalidade, mas conservando a sua filosofia e estrutura básicas.
Registre-se, em grau de importância, a extinção da Fase Municipal e a
diversificação dos prêmios. No primeiro, fazia-se necessário uma preliminar. A
grande maioria dos compositores classificados era de noviciados na matéria, e
concorreriam com alguns dos mais expressivos compositores brasileiros.
Estabelecer um termo de comparação apriorístico não fazia sentido. Uma atitude
provinciana, piegas. Contudo, nada mais justo do que abolir, para o segundo
Festival, esta “divisão de acesso”. O compositor de JF havia provado estar
apto, amadurecido para competir em pé de igualdade, na medida em que vivenciou
todos os mecanismos de um Festival: a
reação do público, os contatos (até
então inexistentes) com maestros arranjadores/intérpretes, o palco, os
bastidores. É claro que não se radicalizou o processor. As músicas locais, na
primeira récita, competiram entre si. As classificadas (conhecidas no final da
segunda récita) concorreram com outras sete músicas convidadas. Paralelamente,
prevaleceu
a tese de se fazer uma divisão mais
equânime dos prémios. O êxito do evento (nos grandes centros firmou-se uma
imagem qualitativa do nosso Festival) possibilitou usar-se de argumentos
outros; não somente vultuosas somas em dinheiro, para motivar ou comover os
compositores famosos, mas, através de hábeis remanejamentos financeiros,
estendeu-se premiação em dinheiro ao quarto e quinto lugares, que antes tinham
sido postergados, em favor de uma concentração maior de numerário (como uma espécie
de chamariz) para o -primeiro lugar. De certa maneira, cor
rigiu-se uma distorção
regulamentar.
A portaria nº 891 do prefeito Itamar A. C. Franco, em 22 de abril de
1969, cria o Grupo de Trabalho, para executar o II FMPBJF, que ficou assim constituído:
Murílio de Avelar Hingel -
Presidente
Marcílio Marques Botti - Supervisor
Mauro Motta Durante -
Assessor-Executivo
José Cesário Moreira - Assessor de
Divulgação
Mario Helénio de Lery Santos -
Assistente da Assessoria de Divulgação
Antônio Rufino Gonçalves Filho -
Secretaria Geral
Assistentes: Luciano Dutra Neto -
José Silveira Teixeira – Wagner de Castro Matias Neto
Archângelo Campos de Miranda -
Assessor-Contábil
José Luiz Ribeiro - Assessor de
Espetáculos
Winston Jones Paiva - Assistente da
Assessoria de Espetáculos
Adonis Karan - Coordenador-Geral
Lucio Alves _ Diretor Musical
Com as récitas marcadas para 31 de
maio, 1 e 2 de junho, 0 GT começou a trabalhar, abrindo as inscrições
imediatamente, sem grandes modificações no regulamento. A mais importante diz
respeito ao número
de inscrições de cada concorrente.
Agora, ainda sob pseudônimo, o com positor só poderia inscrever três
composições. Esta medida pretendeu evitar exageros cometidos no ano anterior.
Sabe-se que um compositor che
gou a inscrever vinte músicas,
absolutamente desprovidas de quaisquer possibilidade classificatória.
Evidentemente, aqueles compositores que julgavam ter trabalhos significativos,
além do número permitido, usaram de artifícios comuns no caso: músicas em nome
de terceiros ou parcerias variadas, não figurando oficialmente em algumas
delas.
Uma comissão de Seleção, nomeada
pelo GT, escolheu 16 músicas (foram inscritas 157) para concorrer com as 15 de
compositores convidados. Pelo Regulamento, seriam em igual número (um total de
30, disputando quinze milhões de cruzeiros) mas, ad referendum do GT,
decidin-se por mais uma, “face ao elevado nível e à consequente dificuldade em
determinar qual seria a excluída”.
Sob a presidência de Murílio de Avelar Hingel, foram membros da CS: José Carlos
de Lery Guimaraes, Oscar Reuder Teixeira, Vitor Giron Vassalo e Lucas Marques
do Amaral. Desta maneira, distribuídas as de JF na primeira récita, segundo critérios
artísticos (“alternava1nos estilos, preferencialmente”, diz Ka
ran), trinta e uma composições
disputavam as seguintes dotações 19 lugar: oito mil cruzeiros e o troféu
“Cidade de Juiz de Fora”; 29 lugar: três mil; 39 lugar: mil e quinhentos; 49
lugar: mil cruzeiros; 59 lugar: quinhentos cruzeiros. Mais mil cruzeiros para o
melhor intérprete. Concorrentes locais e convidados:
CLASSIFICADAS PELA CS:
AMOR DIFERENTE - Armando Fernandes
de Aguiar (Mamão) (Élen de Lima)
AI, AMOR (COISA SECULAR) - Élcio
Costa (Eduardo Conde)
ACENO DE LUZ - Hegel Pontes e
Nelson Silva (Batuque Afro-Brasileiro)
ANGÚSTIA E PAZ - Geraldo/Gudesteu
Mendes e Ooeano Soares (Dante Zanzoni e Coral Alvorada)
CAMINHOS DE SONHO - Rogério
Carvalho e Leny Tristão (Dionísia Savino)
CANÇÃO DO AMOR DE VOLTA - Rogério
Carvalho e Lindolfo Lage (Coral da Igreja São Vicente)
CASA GRANDE - Aloisio Horta
(Sérgio)
DESPERTAR - Marco Aurélio Monteiro
da Silva (Marquinho) e Lindolfo Lage (Élen Blanco)
DOBRADO - Joao Duarte (Os Três
Moraes)
ESPANTALHO - Sueli Costa e Joao
Medeiros Filho (Walmiro)
RENOVAÇÃO - Aloísio Horta (O Grupo)
SAMBA DA ILUSÃO - Werther de
Oliveira e Silva (Werther)
SENHOR DOS NAVEGANTES - Sueli Costa
e Joao Medeiros Filho (Maria Creuza)
TOCAIA - Daltony e Dormevilly
Nóbrega (Fórmula Cinco)
TRISTEZA DO DEPOIS - Haroldo Buzzi
e Theódolo Romualdo da
Silva (Haroldo Buzzi)
VIDA (A), O AMOR, O ENCONTRO -
Rogério Carvalho (Berenice Couto e Fernando Fagundes)
CONVIDADAS PELO GT:
ATE QUE UM DIA ENCONTREI VOCÊ -
Ronaldo Corrêa (The Golden Boys)
CASACO MARRON (BYE, BYE CECY) -
Danilo Caimmy/Gutemberg Guarabyra/Renato Corrêa (Cynara)
ENCANTO ANTIGO - Luiz Cláudio e
Roberto Guimarães (Luiz Cláudio)
ESTRELA (A) E O ASTWRONAUTA - Mário
Castro Neves c Rildo Hora (Ivany Moraes)
GARIMPEIRO (0) - Geraldo e
Geraldinho Carneiro (Marisa Rossi)
HORA (A) DE SE DAR - Eduardo Souto
Neto e Sérgio Bittencourt (Taiguara)
MANDINGA - Ataulpho Alves e Carlos
Imperial (inédita e póstuma) (Clara Nunes/Ataulfinho/Turma da Pesada)
QUANTO TEMPO - Mariozinho Rocha e
Adilson Godoy (Jorge Nery)
QUE (O) E SAUDADE - Fred Falcão e
Nonato Buzar (Marcus Sana)
REGRESSO - Paulinho Tapajós e
Frederico de Oliveira (Turma da Pilantragem)
ROSA FLOR - Roberto Menescal e
Armando Henriques (Luíza)
SAIDEIRA - Helton Menezes e José
Orlando (Rose Valentim)
SINCERA - Tito Madi (Tito Madi)
VOCÊ NEM VIU - Antonio Adolfo e Tibério
Gaspar (Jorge Autuori Trio e Jorginho Telles)
A orquestra contratada para
acompanhar as três récitas foi a da TV Tupi, com 19 figuras, sob a regência do
maestro Carioca. Vários arranjadores ficaram a disposição dos concorrentes
(Cipó, Carlos Monteiro de Souza, Ivan Paulo, Paulo Moura, entre outros) e o GT,
naquele ano, instituiu o troféu “Ataulpho Alves” para o melhor arranjo. Com o
públi
co novamente prestigiando a
promoção municipal (pregos: dia 31, cinco cruzeiros para cadeiras, e quarenta
para camarotes de cinco lugares; dias 1 e 2, sete cruzeiros para cadeiras e
cinquenta para camarotes), os apresentadores Corrêa de Araújo e Riva Blanche,
do cast da Tupi, deram início ao II PMPBJF. Constituiu-se um júri de seis
pessoas (Murílio de Avelar Hingel, presidindo-o, Moisés Fuchs, Damásio José
Vargues de Brito, Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e Fernando Côrtes Muzzi)
para escolher as músicas vencedoras, conforme o regulamento do Festival.
Faz-se necessário dizer do clima bastante agitado (uma grande promoção
para o certame) instalado pelo jornalista e compositor Carlos lmperial, através
de entrevistas e mesmo “discursos” públicos nos dias que antecederam o início
do Festival. Imperial, vindo antes com o seu grupo, A Turma da Pesada (as
gémeas Célia e Celma Mazzei, bastante conheci
das em JF), passou a ser a grande
vedete. Organizou torcida, participouda programação social intensamente e, com
o seu amigo e parceiro Ângelo Antônio, peregrinou bares tecendo loas à memória
de Ataulpho, seu parceiro póstumo. Houve quem perguntasse se “Mandinga"
não teriasido psicografada... Açulou o “mineirismo esquecido" do
juiz-forano
acerca do genial sambista
recentemente falecido. E não deu outra coisa: durante os espetáculos, o
público, previamente, já se manifestava por “Mandinga”, indo, pouco a pouco,
após ouvir outras músicas, incompatibilizando-se com aquele subliminar e
intermitente condicionamento anterior.
O GT procurou, desde o início, criar motivações de público e divulgação.
Convidou, para “colorir” a programação social do evento, recebendo aplausos do
município, Maria da Gloria Carvalho, Miss Beleza Internacional. Até hoje
indaga-se o porquê das homenagens. Ela não tem a menor vinculação com a MPB.
Sabe-se, entretanto, que foi uma
“jogada” da TV Tupi, que na época
tinha interesse no concurso. Lamentou-se, por outro lado, o não televisamento
do Festival, restringindo-se bastante a sua repercussão em termos nacionais,
além de perder-se uma oportunidade única de documentação. O Sr. Geraldo Mendes,
diretor da TV Industrial, afirma deter em seus arquivos os tapes do 1º
Festival. Outra tentativa de conquistar áreas (público para o primeiro dia de
espetáculo) foi trazer, sob contrato. Isabel Valença, destaque de fantasia do Salgueiro,
e alguns ritmistas daquela Escola de Samba, para show de intervalo. Ainda
fizeram shows, durante os três dias de Festival, no Cinema Central: Gutemberg
Guarabyra, Antônio Adolfo e a Brazuka, Turma da Pilantragem, Marcos Valle. JF
se fez representar através de Ministrinho e seu Conjunto, que cativou a
platéia, mostrando em primeira audição a música “O Último Adeus”, de sua
autoria e Cezário Brandi Filho (Zoquinha), que fala dos derradeiros e saudosos
bondes da cidade. Esta composição foi considerada hors Concours pelo Festival -
um gesto de reconhecimento aos serviços prestados por Ministrinho a causa da
MPB de JF. Na história dos' festivais do pais, este apresentou um desfecho sui generis.
O júri, que muitos acharam em número reduzido (seis membros
apenas), conferiu o primeiro lugar
a duas composições: “Mandinga”, de Ataulpho Alves e Carlos Imperial, e “Casaco
Marrom”, de Danilo Caymmi/Gutemberg Guarabyra/Renato Corrêa, que dividiram o
prêmio de oito mil cruzeiros. O público aplaudiu a decisão e curtiu
intensamente o resultado. Entretanto, nos bastidores e mesmo entre a platéia,
estranhou se o fato de o juri ter tido um presidente (a todos os presidentes de
corpos de jurados é concedido o Voto de Minerva que, normativamente, tem poderes
específicos para desempatar) que não usou das prerrogativas do cargo,
homologando o resultado, aceitando, pura e simplesmente, o empate determinado
pela contagem dos votos. Sendo matéria regulamentar (portanto imutável),
alegou-se a hipótese de que o acúmulo de funções (o Prof. Murílio de Avelar
Hingel era o presidente do GT do Festival te também presidente do júri) tenha
permitido esta inovação, para
gáudio dos concorrentes envolvidos
no impasse. Ainda sobre a decisão, declara Guarabyra: “O Imperial, que vocês
conhecem muito bem – um grande “armador” - me disse, num daqueles almoços
oficiais do Festival, que o “Casaco” tinha muita chance, mas ele não abria mão
de tirar o primeiro lugar. E que estava lançando “Mandinga” no país, com todo o
aparato possível, e uma classificação em Festival seria um passo enorme para o
sucesso. E falou mais: “Aqui já investi bastante e se, ganhar vou virar a
mesa...”
O júri proclama as demais
colocações 2º lugar: “Ai, Amor" ‘der Élcio Costa, interpretado por Eduardo
Conde (é importante registrar-se, historicamente, que a autoria da letra é de
Sueli Costa, não constando o seu nome da lista oficial por motivos
particulares); 3º lugar: Você Nem Viu”, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar,
defendida por Jorge
Autuori Trio e Jorginho Teles (o
maestro Antônio Adolfo também recebeu o prêmio de melhor arranjador, pelo seu
trabalho nessa música –
2º Festival de Músicas Populares Brasileiras ou 2º Festival da Música Popular Brasileira, em junho de 1969... em Juiz de Fora
ResponderExcluirO nome do festival está escrito dessa forma, veja em uma das fotos publicadas.
ExcluirEm todas as fotos o nome do festival foi escrito de maneira errada, ou seja, o correto deveria ser assim: 2º Festival da Música Popular Brasileira, realizado no Cine Teatro Central, em junho de 1969 ( Texto do livro " História Recente da Música Popular Brasileira em Juiz de Fora " ) Autores: Carlos Décio Mostaro, João Medeiros Filho e Roberto Faria de Medeiros.
ExcluirMarcelo: Digite como está digitado no dia 04/08/15 às 10h40min. Pelo menos no título principal. Grato pela atenção. Angelo.
ResponderExcluirO nome do Festival é: "2º Festival de Música Popular Brasileira"
ExcluirEu não posso mudar o nome.
Então redigite como está digitado no dia 04/08/15 usando " de " em vez de " da ".
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