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31 julho 2015

2º Festival de Música Popular Brasileira, Cine Teatro Central. Em junho de 1969 (Texto do Livro "História Recente da Música Popular Em Juiz de Fora" de Carlos Décio Mostaro, João Medeiros Filho e Roberto Faria de Medeiros).



SEGUNDO FESTIVAL DE MPB DE JF

Diante do sucesso e repercussão do Primeiro Festival, a municipalidade resolveu institucionalizá-lo. Após reflexões, análises, deu-se continuidade à promoção, reformulando-se certos itens de sua funcionalidade, mas conservando a sua filosofia e estrutura básicas. Registre-se, em grau de importância, a extinção da Fase Municipal e a diversificação dos prêmios. No primeiro, fazia-se necessário uma preliminar. A grande maioria dos compositores classificados era de noviciados na matéria, e concorreriam com alguns dos mais expressivos compositores brasileiros. Estabelecer um termo de comparação apriorístico não fazia sentido. Uma atitude provinciana, piegas. Contudo, nada mais justo do que abolir, para o segundo Festival, esta “divisão de acesso”. O compositor de JF havia provado estar apto, amadurecido para competir em pé de igualdade, na medida em que vivenciou todos os mecanismos de um Festival: a

reação do público, os contatos (até então inexistentes) com maestros arranjadores/intérpretes, o palco, os bastidores. É claro que não se radicalizou o processor. As músicas locais, na primeira récita, competiram entre si. As classificadas (conhecidas no final da segunda récita) concorreram com outras sete músicas convidadas. Paralelamente, prevaleceu

a tese de se fazer uma divisão mais equânime dos prémios. O êxito do evento (nos grandes centros firmou-se uma imagem qualitativa do nosso Festival) possibilitou usar-se de argumentos outros; não somente vultuosas somas em dinheiro, para motivar ou comover os compositores famosos, mas, através de hábeis remanejamentos financeiros, estendeu-se premiação em dinheiro ao quarto e quinto lugares, que antes tinham sido postergados, em favor de uma concentração maior de numerário (como uma espécie de chamariz) para o -primeiro lugar. De certa maneira, cor

rigiu-se uma distorção regulamentar.

    A portaria nº 891 do prefeito Itamar A. C. Franco, em 22 de abril de 1969, cria o Grupo de Trabalho, para executar o II FMPBJF, que ficou assim constituído:



Murílio de Avelar Hingel - Presidente

Marcílio Marques Botti - Supervisor

Mauro Motta Durante - Assessor-Executivo

José Cesário Moreira - Assessor de Divulgação

Mario Helénio de Lery Santos - Assistente da Assessoria de Divulgação

Antônio Rufino Gonçalves Filho - Secretaria Geral

Assistentes: Luciano Dutra Neto - José Silveira Teixeira – Wagner de Castro Matias Neto

Archângelo Campos de Miranda - Assessor-Contábil

José Luiz Ribeiro - Assessor de Espetáculos

Winston Jones Paiva - Assistente da Assessoria de Espetáculos

Adonis Karan - Coordenador-Geral

Lucio Alves _ Diretor Musical

Com as récitas marcadas para 31 de maio, 1 e 2 de junho, 0 GT começou a trabalhar, abrindo as inscrições imediatamente, sem grandes modificações no regulamento. A mais importante diz respeito ao número

de inscrições de cada concorrente. Agora, ainda sob pseudônimo, o com positor só poderia inscrever três composições. Esta medida pretendeu evitar exageros cometidos no ano anterior. Sabe-se que um compositor che

gou a inscrever vinte músicas, absolutamente desprovidas de quaisquer possibilidade classificatória. Evidentemente, aqueles compositores que julgavam ter trabalhos significativos, além do número permitido, usaram de artifícios comuns no caso: músicas em nome de terceiros ou parcerias variadas, não figurando oficialmente em algumas delas.

Uma comissão de Seleção, nomeada pelo GT, escolheu 16 músicas (foram inscritas 157) para concorrer com as 15 de compositores convidados. Pelo Regulamento, seriam em igual número (um total de 30, disputando quinze milhões de cruzeiros) mas, ad referendum do GT, decidin-se por mais uma, “face ao elevado nível e à consequente dificuldade em

determinar qual seria a excluída”. Sob a presidência de Murílio de Avelar Hingel, foram membros da CS: José Carlos de Lery Guimaraes, Oscar Reuder Teixeira, Vitor Giron Vassalo e Lucas Marques do Amaral. Desta maneira, distribuídas as de JF na primeira récita, segundo critérios artísticos (“alternava1nos estilos, preferencialmente”, diz Ka

ran), trinta e uma composições disputavam as seguintes dotações 19 lugar: oito mil cruzeiros e o troféu “Cidade de Juiz de Fora”; 29 lugar: três mil; 39 lugar: mil e quinhentos; 49 lugar: mil cruzeiros; 59 lugar: quinhentos cruzeiros. Mais mil cruzeiros para o melhor intérprete. Concorrentes locais e convidados:

CLASSIFICADAS PELA CS:

AMOR DIFERENTE - Armando Fernandes de Aguiar (Mamão) (Élen de Lima)

AI, AMOR (COISA SECULAR) - Élcio Costa (Eduardo Conde)

ACENO DE LUZ - Hegel Pontes e Nelson Silva (Batuque Afro-Brasileiro)

ANGÚSTIA E PAZ - Geraldo/Gudesteu Mendes e Ooeano Soares (Dante Zanzoni e Coral Alvorada)

CAMINHOS DE SONHO - Rogério Carvalho e Leny Tristão (Dionísia Savino)

CANÇÃO DO AMOR DE VOLTA - Rogério Carvalho e Lindolfo Lage (Coral da Igreja São Vicente)

CASA GRANDE - Aloisio Horta (Sérgio)

DESPERTAR - Marco Aurélio Monteiro da Silva (Marquinho) e Lindolfo Lage (Élen Blanco)

DOBRADO - Joao Duarte (Os Três Moraes)

ESPANTALHO - Sueli Costa e Joao Medeiros Filho (Walmiro)

RENOVAÇÃO - Aloísio Horta (O Grupo)

SAMBA DA ILUSÃO - Werther de Oliveira e Silva (Werther)

SENHOR DOS NAVEGANTES - Sueli Costa e Joao Medeiros Filho (Maria Creuza)

TOCAIA - Daltony e Dormevilly Nóbrega (Fórmula Cinco)

TRISTEZA DO DEPOIS - Haroldo Buzzi e Theódolo Romualdo da

Silva (Haroldo Buzzi)

VIDA (A), O AMOR, O ENCONTRO - Rogério Carvalho (Berenice Couto e Fernando Fagundes)

CONVIDADAS PELO GT:

ATE QUE UM DIA ENCONTREI VOCÊ - Ronaldo Corrêa (The Golden Boys)

CASACO MARRON (BYE, BYE CECY) - Danilo Caimmy/Gutemberg Guarabyra/Renato Corrêa (Cynara)

ENCANTO ANTIGO - Luiz Cláudio e Roberto Guimarães (Luiz Cláudio)

ESTRELA (A) E O ASTWRONAUTA - Mário Castro Neves c Rildo Hora (Ivany Moraes)

GARIMPEIRO (0) - Geraldo e Geraldinho Carneiro (Marisa Rossi)

HORA (A) DE SE DAR - Eduardo Souto Neto e Sérgio Bittencourt (Taiguara)

MANDINGA - Ataulpho Alves e Carlos Imperial (inédita e póstuma) (Clara Nunes/Ataulfinho/Turma da Pesada)

QUANTO TEMPO - Mariozinho Rocha e Adilson Godoy (Jorge Nery)

QUE (O) E SAUDADE - Fred Falcão e Nonato Buzar (Marcus Sana)

REGRESSO - Paulinho Tapajós e Frederico de Oliveira (Turma da Pilantragem)

ROSA FLOR - Roberto Menescal e Armando Henriques (Luíza)

SAIDEIRA - Helton Menezes e José Orlando (Rose Valentim)

SINCERA - Tito Madi (Tito Madi)

VOCÊ NEM VIU - Antonio Adolfo e Tibério Gaspar (Jorge Autuori Trio e Jorginho Telles)

A orquestra contratada para acompanhar as três récitas foi a da TV Tupi, com 19 figuras, sob a regência do maestro Carioca. Vários arranjadores ficaram a disposição dos concorrentes (Cipó, Carlos Monteiro de Souza, Ivan Paulo, Paulo Moura, entre outros) e o GT, naquele ano, instituiu o troféu “Ataulpho Alves” para o melhor arranjo. Com o públi

co novamente prestigiando a promoção municipal (pregos: dia 31, cinco cruzeiros para cadeiras, e quarenta para camarotes de cinco lugares; dias 1 e 2, sete cruzeiros para cadeiras e cinquenta para camarotes), os apresentadores Corrêa de Araújo e Riva Blanche, do cast da Tupi, deram início ao II PMPBJF. Constituiu-se um júri de seis pessoas (Murílio de Avelar Hingel, presidindo-o, Moisés Fuchs, Damásio José Vargues de Brito, Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e Fernando Côrtes Muzzi) para escolher as músicas vencedoras, conforme o regulamento do Festival.

    Faz-se necessário dizer do clima bastante agitado (uma grande promoção para o certame) instalado pelo jornalista e compositor Carlos lmperial, através de entrevistas e mesmo “discursos” públicos nos dias que antecederam o início do Festival. Imperial, vindo antes com o seu grupo, A Turma da Pesada (as gémeas Célia e Celma Mazzei, bastante conheci

das em JF), passou a ser a grande vedete. Organizou torcida, participouda programação social intensamente e, com o seu amigo e parceiro Ângelo Antônio, peregrinou bares tecendo loas à memória de Ataulpho, seu parceiro póstumo. Houve quem perguntasse se “Mandinga" não teriasido psicografada... Açulou o “mineirismo esquecido" do juiz-forano

acerca do genial sambista recentemente falecido. E não deu outra coisa: durante os espetáculos, o público, previamente, já se manifestava por “Mandinga”, indo, pouco a pouco, após ouvir outras músicas, incompatibilizando-se com aquele subliminar e intermitente condicionamento anterior.

    O GT procurou, desde o início, criar motivações de público e divulgação. Convidou, para “colorir” a programação social do evento, recebendo aplausos do município, Maria da Gloria Carvalho, Miss Beleza Internacional. Até hoje indaga-se o porquê das homenagens. Ela não tem a menor vinculação com a MPB. Sabe-se, entretanto, que foi uma

“jogada” da TV Tupi, que na época tinha interesse no concurso. Lamentou-se, por outro lado, o não televisamento do Festival, restringindo-se bastante a sua repercussão em termos nacionais, além de perder-se uma oportunidade única de documentação. O Sr. Geraldo Mendes, diretor da TV Industrial, afirma deter em seus arquivos os tapes do 1º Festival. Outra tentativa de conquistar áreas (público para o primeiro dia de espetáculo) foi trazer, sob contrato. Isabel Valença, destaque de fantasia do Salgueiro, e alguns ritmistas daquela Escola de Samba, para show de intervalo. Ainda fizeram shows, durante os três dias de Festival, no Cinema Central: Gutemberg Guarabyra, Antônio Adolfo e a Brazuka, Turma da Pilantragem, Marcos Valle. JF se fez representar através de Ministrinho e seu Conjunto, que cativou a platéia, mostrando em primeira audição a música “O Último Adeus”, de sua autoria e Cezário Brandi Filho (Zoquinha), que fala dos derradeiros e saudosos bondes da cidade. Esta composição foi considerada hors Concours pelo Festival - um gesto de reconhecimento aos serviços prestados por Ministrinho a causa da MPB de JF. Na história dos' festivais do pais, este apresentou um desfecho sui generis. O júri, que muitos acharam em número reduzido (seis membros

apenas), conferiu o primeiro lugar a duas composições: “Mandinga”, de Ataulpho Alves e Carlos Imperial, e “Casaco Marrom”, de Danilo Caymmi/Gutemberg Guarabyra/Renato Corrêa, que dividiram o prêmio de oito mil cruzeiros. O público aplaudiu a decisão e curtiu intensamente o resultado. Entretanto, nos bastidores e mesmo entre a platéia, estranhou se o fato de o juri ter tido um presidente (a todos os presidentes de corpos de jurados é concedido o Voto de Minerva que, normativamente, tem poderes específicos para desempatar) que não usou das prerrogativas do cargo, homologando o resultado, aceitando, pura e simplesmente, o empate determinado pela contagem dos votos. Sendo matéria regulamentar (portanto imutável), alegou-se a hipótese de que o acúmulo de funções (o Prof. Murílio de Avelar Hingel era o presidente do GT do Festival te também presidente do júri) tenha permitido esta inovação, para

gáudio dos concorrentes envolvidos no impasse. Ainda sobre a decisão, declara Guarabyra: “O Imperial, que vocês conhecem muito bem – um grande “armador” - me disse, num daqueles almoços oficiais do Festival, que o “Casaco” tinha muita chance, mas ele não abria mão de tirar o primeiro lugar. E que estava lançando “Mandinga” no país, com todo o aparato possível, e uma classificação em Festival seria um passo enorme para o sucesso. E falou mais: “Aqui já investi bastante e se, ganhar vou virar a mesa...”

O júri proclama as demais colocações 2º lugar: “Ai, Amor" ‘der Élcio Costa, interpretado por Eduardo Conde (é importante registrar-se, historicamente, que a autoria da letra é de Sueli Costa, não constando o seu nome da lista oficial por motivos particulares); 3º lugar: Você Nem Viu”, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, defendida por Jorge

Autuori Trio e Jorginho Teles (o maestro Antônio Adolfo também recebeu o prêmio de melhor arranjador, pelo seu trabalho nessa música –


Troféu “Ataulpho Alves”); 4º lugar: “Renovação”, de Aloísio Horta,interpretada pelo O Grupo; e 5º lugar: “Adeus Diferente”, de Armando Fernandes Aguiar (Mamão), na Voz de Élen de Lima. Taigura, interpretando “A Hora De Se Dar”, de Eduardo Souto Neto e Sérgio Bittencourt foi o melhor intérprete. Mais uma vez, o público, como tinha acontecido no primeiro Festival, sente-se frustrado com a não inclusão de Eduardo Conde.

De uma maneira geral, agradou o II Festival. Vários compositores foram revelados e viram os seus esforços referendados pelo júri. Em matéria de “badalação” na imprensa, perdurou nacionalmente o affaire Gutemberg versus Imperial. Uma evidente autopromoção, que, para o nosso Festival, foi excelente em termos de divulgação. Um saldo bastante positivo ficou de mais, esta iniciativa da municipalidade. No ar, porém, até os dias de hoje, permanece a indagação: Com quem ficou o Troféu “Cidade de Juiz de Fora”, destinado ao primeiro lugar do II Festival!?...

Sem resposta.



6 comentários:

  1. 2º Festival de Músicas Populares Brasileiras ou 2º Festival da Música Popular Brasileira, em junho de 1969... em Juiz de Fora

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    1. O nome do festival está escrito dessa forma, veja em uma das fotos publicadas.

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    2. Em todas as fotos o nome do festival foi escrito de maneira errada, ou seja, o correto deveria ser assim: 2º Festival da Música Popular Brasileira, realizado no Cine Teatro Central, em junho de 1969 ( Texto do livro " História Recente da Música Popular Brasileira em Juiz de Fora " ) Autores: Carlos Décio Mostaro, João Medeiros Filho e Roberto Faria de Medeiros.

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  2. Marcelo: Digite como está digitado no dia 04/08/15 às 10h40min. Pelo menos no título principal. Grato pela atenção. Angelo.

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    1. O nome do Festival é: "2º Festival de Música Popular Brasileira"
      Eu não posso mudar o nome.

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  3. Então redigite como está digitado no dia 04/08/15 usando " de " em vez de " da ".

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